Depois de passar por muitas coisas na vida, a confeiteira gonçalense Annie Carolina resolveu mudar o seu destino e o de outras pessoas. Ela contou que, por muitos anos, enfrentou algumas situações difíceis, mas encontrou na produção de doces e bolos a solução para os seus problemas financeiros. Finalmente, Annie conseguiu uma vida estável. Hoje, por meio de um projeto social, ela pretende ensinar pessoas carentes a trabalhar no segmento.
"Na verdade, eu nunca pensei em ser confeiteira profissional. Me casei aos 17 anos e fui morar em Brasília. Aos 19, eu me separei e voltei para São Gonçalo. Neste período, tive uma vida muito instável. Apesar de ter amadurecido mais cedo, eu gostava muito de balada e não pensava em ter uma família. Entretanto, há uns seis anos atrás, acabei conhecendo meu atual esposo. Engravidei do meu segundo filho e passei a querer ter algo mais equilibrado na minha vida. Isso porque, até conseguir o que temos, nós passamos por muita humilhação na casa de familiares. Um dia, quando eu estava passando um perrengue, a minha irmã sugeriu que eu fizesse doces para vender", contou.
Segundo Annie, a ideia inicial era apenas fazer permutas e realizar as festas dos próprios filhos. Porém, quando ela e a irmã começaram a divulgar o empreendimento em grupos nas redes sociais da região, a brincadeira se transformou em algo mais sério.
"Eu e minha irmã iniciamos juntas. Compramos o material necessário e passamos a fazer eventos. Contudo, não tínhamos experiência de mercado e não sabíamos cobrar o preço adequado. Por isso, nos enrolamos e desfizemos a sociedade. Tive que recomeçar utilizando um quartinho na casa da minha mãe e sem material", relatou.
Foi então que ela passou a fazer os doces enquanto a irmã preparava os bolos. Na mesma época, uma empresária da cidade entrou em contato com Annie e sugeriu uma parceria. A doceira preparava os produtos com as formas emprestadas e deixava que fossem feitas fotografias para a divulgação do trabalho.
Confesso que pensava que isso não fosse durar, mas o sucesso foi grande. Tanto, que eu vivia praticamente todo o tempo no quartinho que a minha mãe cedeu. A demanda aumentou muito, o espaço ficou pequeno e as reclamações da minha mãe aumentaram. Ficou inviável continuar na casa dela. Decidi alugar um imóvel e mesmo sem ter condições, juntamente com meu esposo, fui recomeçar em outro lugar", explicou.
Annie ressaltou que a decisão foi muito importante, assim como afirmou que a confeitaria significou o início de uma grande mudança em sua história. Por tal motivo, ela acredita muito no que faz.
"Hoje, atuo até em outras áreas, mas a confeitaria é o principal negócio. Inclusive, falei pra Deus que, se ele me ajudasse, eu retribuiria tudo isso para aqueles que como eu nunca tiveram o apoio necessário", destacou.
Uma amiga lhe apresentou o pastor que cedeu o espaço em uma igreja de São Gonçalo. Há pouco mais de um mês, a empresária ministra seu curso gratuito de confeitaria para pessoas carentes. Chamado de "Mãos de Deus", ele ainda conta com a colaboração de Luciana Amaral que também é professora do projeto.
"Não é apenas um curso de confeitaria. É uma maneira de mostrar, com a minha própria experiência de vida, que a confeitaria muda vidas de verdade. Sou uma prova disso. Atualmente, além de uma empresa de assessoria de festas, também promovo workshop's que não somente abordam o tema, mas abragem a gestão financeira e o coaching em motivação", adiantou.
Vale lembrar que o projeto "Mão de Deus" acontece às terças-feiras durante a tarde e a noite. Na última quarta-feira (31), iniciou mais uma turma. Com isso, em pouco tempo, já são três grupos em formação. De acordo com a idealizadora, no momento, o público atendido é oriundo da comunidade do Escadão, no bairro do Rocha. Para a seleção, não existe distinção de gênero e nem uma idade pré-estabelecida. O tempo de duração do curso é de dois meses e os alunos recebem certificado de conclusão.
Como a arte imita a vida e nada é por acaso, a história de Annie é muito semelhante a vida da Maria da Paz, a protagonista da novela a "Dona do Pedaço", da TV Globo. Ambas, fizeram a sua história vendendo bolo e hoje são um sucesso na telinha e na vida real. Não a toa, ela está ficando conhecida como a Annie da Paz.
A atriz Juliana Paes, que interpreta a famosa boleira, também é de São Gonçalo. Coincidências a parte, Juliana comentou sobre como tem percebido a inspiração e empoderamento de outras mulheres com o seu atual trabalho. Assim como, entendeu o quanto ela tem inspirado pessoas como a Annie.
"O Walcyr foi muito feliz ao criar essa personagem, porque a Maria da Paz conversa com todas as mulheres que são donas de si, que se fizeram pelo próprio esforço e são a razão do próprio sucesso. Mulheres que passaram por dificuldades na vida, mas mesmo assim não esmoreceram. Esse é o sentido de ser a dona do seu próprio pedaço, da sua própria vida, da sua própria história. De não ter medo de ser guerreira, de ser a dona das próprias rédeas", celebrou a atriz.